Lição nº 117 e 118
19-04-2016
Sumário: Discussão de uma ficha formativa sobre um técnico auxiliar de psiquiatria.
Ao
começar a trabalhar num hospital psiquiátrico, talvez tenha, acerca das doenças
mentais, certas ideias erróneas que deve procurar corrigir. Se os seus
conhecimentos se assemelham aos da maioria das pessoas, terá bastante que
aprender, a fim de se por a par dos ensinamentos científicos atuais neste
campo.
Abandonar a ideia de:
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E compreender:
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1. Que a doença mental seja um mal misterioso, que
não pode ser evitado ou curado.
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1. Que a doença mental é um tipo de doença que
necessita de tratamento precoce e adequado, tal qual a doença cardíaca.
Ninguém, pois, deve envergonhar-se dessa doença.
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2. Que a doença mental seja de uma única modalidade
e sempre muito grave.
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2. Que existem muitas variedades de doenças mentais;
algumas mais, outras menos graves; algumas que podem ser tratadas a
domicílio, outras em ambulatórios e outras ainda cujo tratamento requer
hospitalização.
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3. Que a doença mental aparece de repente, sem aviso
prévio.
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3. Que a doença mental, na maioria das vezes,
desenvolve-se gradualmente, com sintomas premonitórios.
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4. Que as doenças mentais não podem ser evitadas.
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4. Que os sintomas de uma doença mental geralmente
podem ser percebidos e que, se lhes for concedida pronta atenção, a doença
mental poderá frequentemente ser evitada.
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5. Que o choque emocional – com a perda de entes
queridos, as desilusões amorosas, os desastres financeiros e outras
desventuras – seja a causa das doenças mentais.
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5. Que os choques emocionais podem favorecer a
instalação da doença, mas, em tais casos, as suas sementes já estavam lá,
embora ainda não houvessem despontado; as causas verdadeiras são muitas vezes
ignoradas.
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6. Que os “hospícios” sejam lugares horríveis e que
ser internado num deles significa nunca mais sair.
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6. Que os antigos “hospícios” se transformaram hoje
em hospitais, para onde os pacientes são encaminhados a fim de se curarem e
de receberem cuidados médicos e de enfermagem.
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7. Que a doença mental seja sempre hereditária – uma
tara, reveladora de predisposição constitucional familiar.
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7. Que algumas modalidades de doenças mentais têm
realmente fundo hereditário, mas que a maior parte decorre de outras causas,
biológicas, psicológicas e sociais.
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Os Pacientes são Pessoas Humanas
É
importante que compreenda como a ciência considera a doença mental, pois o
êxito do seu trabalho, como auxiliar psiquiátrico, depende mais da sua atitude
do que de qualquer outra coisa. Embora possa iniciar o seu trabalho sem conhecer
exatamente a natureza e os métodos de tratamento da doença mental, importa
livrar-se, desde logo, de ideias erróneas e compenetrar-se de uma verdade
primordial: os pacientes são seres humanos.
Os
pacientes sob os seus cuidados não são totalmente diferentes de si e, em muita
coisa, assemelham-se. O paciente tem emoções e ideias, gostos e aversões,
esperanças e receios, tais como os seus. Cada paciente tem sua personalidade
própria e, como todos nós, passa por fases de alegria e de tristeza, de
jovialidade e de aborrecimento, de amor e de ódio. Bem fará, se adotar, em
relação aos doentes, o ponto de vista recomendado pelo Dr. Earl D. Bond, no
“The Attendant”: “Se eu fosse atendente... estudaria os delírios dos doentes e
tentaria saber no que eles diferem dos meus próprios devaneios... estudaria a
sua obstinação e teimosia, e as compararia com meu próprio comportamento. Teria
interesse em desvendar os mundos irreais que os pacientes para si constroem, em
saber o que os sonhos proporcionam àqueles que não conseguem satisfazer de
outra forma os seus anseios... observaria como, na exaltação, o raciocínio do
paciente fica a mercê das suas emoções,
e me poria a imaginar quantos votos nas eleições são realmente fruto da lógica
e do bom-senso... Depois de conversar com pacientes vítimas do delírio de
perseguição, pôr-me-ia a pensar como qualificar muitas das ideias de certas
pessoas consideradas normais”.
Todos
nós temos as mesmas tendências observadas nos doentes mentais, com a diferença
de que somos capazes de controlar essas tendências e mantê-las dentro de
limites razoáveis, ao passo que os pacientes perderam essa capacidade.
Objetividade – Sensibilidade
Se
for capaz de perceber essas semelhanças e diferenças, existentes entre si e o
doente mental, estará bem próximo de adotar a atitude que, mais do que qualquer
outra coisa, constitui a chave do êxito de um auxiliar psiquiátrico. Porque os
pacientes se assemelham a vsi, ser-lhe-á mais fácil compreendê-los; porque de
você diferem, ser-lhe-á possível ser objetivo e eficiente ao atender às suas
necessidades.
Durante
o seu primeiro dia de trabalho num hospital psiquiátrico, se for como a maioria das pessoas, ficará
surpreso e comovido – surpreso, com o estado a que chegaram certos pacientes;
comovido, com a sua premente necessidade de auxílio. Passada a primeira
impressão, a maioria das pessoas não mais se surpreende e o mesmo lhe
acontecerá. A sua eficiência será prejudicada se for demasiado sensível ao
sofrimento dos pacientes, se se sentir deprimido com o estado dos doentes,
perturbado por medo ou preocupação. É preciso, pois, que supere sua hipersensibilidade e se torne
objetivo.
Algumas
pessoas, entretanto, inclinam-se insensivelmente para a frieza e
insensibilidade, atitude esta que deverá ter o máximo cuidado de evitar. A sua
eficiência será prejudicada se encarar as necessidades e condições do paciente
apenas objetivamente, sem levar em consideração as suas esperanças e
sentimentos, se considerar o seu trabalho apenas como uma tarefa qualquer. Cedo
estará fechando os olhos à negligencia e aos maus tratos, e logo mais, com
surpresa sua estará neles tomando parte. Continue, pois, a ser sensível.
Atitude Equilibrada
Deverá
esforçar-se por adquirir uma atitude intermediária – nem inteiramente objetiva,
nem inteiramente subjetiva ou sensível em relação ao seu trabalho. É o
equilíbrio a Regra de Ouro; nem uma, nem outra atitude, mas ambas fundidas numa
disposição harmónica. Ninguém lhe pode ensinar essa atitude. Mas, conhecendo o
perigo de qualquer exagero, poderá adquiri-la à força de bom-senso. Uma vez
atingido esse equilíbrio, verificará que a maioria das qualidades do bom
auxiliar psiquiátrico se assenta nessa atitude básica.
O
bom auxiliar psiquiátrico
Por sua objetividade
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Por sua sensibilidade
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Não mais despreza ou condena os pacientes por seus
atos.
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Lembra-se de que os pacientes são seres humanos e os
trata como tais.
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Demonstra confiança e habilidade profissional.
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Atende aos pacientes, sem pressa e individualmente.
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Não se envolve em amizades particulares com
pacientes.
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Trata a todos com cordialidade.
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Não dá valor demasiado às observações dos pacientes.
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Procura, frequentemente, ouvir os pacientes com
interesse especial.
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Mantém serenidade.
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Manifesta interesse cortês.
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Cultiva a paciência, que procede da compreensão.
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Cultiva a paciência, que também procede do interesse
pelo paciente.
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Controla-se sem sentimentalismo.
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Manifesta simpatia e interesse.
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É sincero.
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Sem tato.
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